Quero morrer que ainda sou novo

25-08-2025 01:35

   Quero morrer, que ainda sou novo

e não há melhor condição para morrer:

acabar numa manhã de entusiasmo,

ou numa tarde de exuberância,

ou numa noite de repouso otimista.

Partir como um galeão carregado de ouro

e de jovens mareantes ávidos de mar

— uma viagem que acaba repentina

sem dar tempo aos corpos para se acomodarem.

Os marinheiros afundam-se a cantar,

as retinas pintadas da cor da viagem,

levando com eles a riqueza da vida,

descendo ao abismo com a fé de um tesouro.

 

Quero morrer, porque o sangue ainda corre,

em rios sinuosos e pujantes,

que não respeitam a gravidade,

nem a tirania das margens,

nem o sentido da nascente e da foz:

caudais bravios e destemidos,

que desaguam na própria nascente

e quando secam,

ainda bebem o sentimento da sua torrente.

 

Quero morrer como um  fogo-de-artifício

que se consome no êxtase das cores:

vermelho, amarelo, prata, dourado,

azul, roxo, verde incandescente…

Brilham no céu num último estertor.

Caem e sucumbem na glória do orgasmo.